Caros amigos e amigas, vou contar-vos uma história que li há muitos anos e que me impressionou bastante.
Para Romanov, educar era provocar a inteligência.
Certa vez, numa turma procurou o raciocínio dos alunos com estas palavras: “Não devemos ver apenas os olhos da face que só captam a luz exterior, precisamos ver também com os olhos do coração, que captam os pensamentos e as emoções das pessoas. Vocês conseguem descobrir riquezas soterradas nas pessoas que vos decepcionam?”
“É duro conviver com pessoas complicadas”, disse rapidamente Isabel,uma das alunas da turma. ”Às vezes, nós é que somos complicados”, brincou Romanov. A turma sorriu e, em seguida, o professor aproveitou o momento para lhes pedir que fizessem um exercício intelectual.
”Pensem, neste exacto momento, durante apenas um minuto, numa pessoa que vos chateou, vos ofendeu, vos rejeitou ou vos traiu”.E, para espanto dos seus alunos, acrescentou:”Procurem ver nessa pessoa algumas qualidades das quais nunca se aperceberam”.
Alguns alunos expressaram baixinho: ”Os meus inimigos só têm defeitos”. Era raríssimo ver os alunos daquela escola a reflectir. Mas o ilustre professor estimulou-os a sair do mundo físico e a mergulhar no mundo psíquico. Por incrível que pareça, eles ficaram pensativos. Passado um minuto, o professor perguntou: ”Alguém vislumbrou algo além da luz exterior? Alguém viu uma qualidade onde só via erros e falhas?”
Quase todos levantaram as mãos. Viram pela primeira vez o invisível, o essencial.
”Alguém quer dizer alguma coisa?”, voltou a perguntar o professor.
A plateia ficou emudecida. Entretanto, quando um aluno começou a falar, os outros desinibiram-se. Um aluno revelou que tinha passado a odiar um amigo porque ele lhe tinha roubado a namorada, mas sabia que havia aspectos positivos na personalidade dele, embora nunca tenha aceitado as suas desculpas. Outro afirmou que detestava o professor que lhe tinha chamado estúpido, mas reconheceu que tinha desrespeitado esse professor e que descobrira naquele momento algumas qualidades dele que anteriormente não vira. Outro aluno dizia: “Não suporto meu pai, só sabe gritar comigo, está sempre a chatear-me e a tentar controlar-me. Ele viaja muito e, quando chega, só pensa no controlo. Já pensei em sair de casa, eu e o meu pai não podemos estar no mesmo espaço.
No entanto, Romanov foi “viajando no tempo”, tinha perdido seu pai com 17 anos, tivera de lutar para sobreviver e, sobretudo, para superar as saudades.
Em seguida perguntou: “Quem tem mágoa de seus pais e suas mães? Quem é que os conhece profundamente, os seus sonhos, angústias, aventuras e os seus dias mais alegres e mais tristes?”
Parecia absurdo, mas ninguém sabia de ninguém, respiravam o mesmo ar, comiam a mesma comida mas não se conheciam uns aos outros.
Eu sou formanda do CITEFORMA, sou simplesmente a Helena mãe, e aluna como vocês. Tenho 52 anos, sei o quanto, por vezes, é difícil atravessar as nossas crises de identidade, principalmente na adolescência, quer a nível físico, quer a nível psicológico, sem ter os pais para acompanhar nossas crises. Mas também sei que os jovens de hoje “descartam” os seus problemas muitas vezes em cima de quem está mais perto, e não tem culpa, que são os professores. Toda a raiva e as frustrações de suas casas vão para a escola, juntamente com os livros.
Quem vos poderá ajudar? Os professores, se vocês deixarem. Estes não são “murais”para serem agredidos pelos vossos erros e sentimentos de culpa ou frustração, são pessoas como vocês, com alma, coração e, por vezes, com problemas muito maiores que os vossos, mas que têm de estar lá para dar o seu melhor, que é encaminhar-vos para o caminho certo.
Hoje em dia os jovens estão a criar uma falta de respeito para com os professores que gera uma anarquia total. É isso que querem mesmo para vocês e para os vossos filhos no futuro? Não penso que seja. “Os actos irreflectidos de um dia pagam-se bem caros mais tarde”.
Aprendam a pedir ajuda, tentem compreender quem está do outro lado, não partam logo para a agressividade, pois, como já tinha dito, mau comportamento atrai mau comportamento, “um sorriso não custa nada a quem o dá e é muito para quem o recebe”.
Os professores precisam de vocês, como vocês precisam deles. É uma troca muito frutuosa de experiências de vida e um cruzamento de gerações que acho fascinante e não devia de perder-se.
E agora desculpem-me, que já me alonguei demais para um blogue.
Beijinhos para todos da Helena Reis
Curso EFA de Secretariado